Elementos e Momentos da Narrativa - Atividade com Gabarito para 7º, 8º e 9º anos - BNCC
Esta é uma atividade introdutória, cujo objetivo é reconhecer os elementos e momentos da narrativa no conto “O homem que espalhou o deserto”, de Ignácio de Loyola.
O conto “O homem que espalhou o deserto”, de Ignácio de Loyola, é riquíssimo para trabalhar elementos e momentos da narrativa, principalmente em um momento inicial (ou de revisão) desse conteúdo.
A habilidade da BNCC trabalhada é EF69LP47, especificamente os seguintes aspectos:
- Identificar os elementos e momentos da narrativa em textos literários.
- Diferenciar os tipos de narrador (personagem e observador), personagens (principais e secundários), tempo (cronológico e psicológico) e espaço (físico e psicológico) em textos narrativos.
Atividade de Língua Portuguesa
Habilidade BNCC: (EF69LP47)
- Identificar os elementos e momentos da narrativa em textos literários.
- Diferenciar os tipos de narrador (personagem e observador), personagens (principais e secundários), tempo (cronológico e psicológico) e espaço (físico e psicológico) em textos narrativos.
São os componentes básicos que estruturam qualquer história:
· Enredo (ou trama) – sequência de acontecimentos que formam a história. → Exemplo: tudo o que acontece com o personagem principal do início ao fim.
· Personagens – quem participa da narrativa. → Podem ser principais (protagonista), antagonista (contrários aos protagonistas) ou secundários.
· Tempo – quando os fatos acontecem. → Pode ser cronológico (em ordem) ou psicológico (com lembranças, flashbacks etc.).
· Espaço – onde os acontecimentos se passam. → Pode ser físico (uma cidade, uma casa) ou simbólico (representando ideias ou sentimentos).
· Narrador – quem conta a história. → Pode estar em: 1ª pessoa (narrador-personagem: “Eu vivi aquilo”) 3ª pessoa (narrador-observador ou onisciente)
Representam as etapas do enredo, mostrando como a história se desenvolve:
· Situação inicial – apresenta o cenário, os personagens e o contexto da narrativa. → Tudo ainda está equilibrado.
· Conflito (problema ou complicação) – surge um problema, desafio ou mudança que quebra o equilíbrio inicial. É o acontecimento que faz a história existir.
· Sequência de ações (ou desenvolvimento do conflito) – mostra o desenrolar dos acontecimentos, as tentativas dos personagens de resolver a complicação, os obstáculos e as tensões que surgem.
· Clímax – é o ponto de maior tensão ou o momento decisivo da história.
· Desfecho (ou resolução) – ocorre a solução (ou não) do que foi apresentado; encerra a narrativa; estabelece um novo equilíbrio na história.
Texto 1
O HOMEM QUE ESPALHOU O DESERTO
Ignácio de Loyola
Quando menino, costumava apanhar a tesoura da mãe e ia para o quintal, cortando folhas das árvores. Havia mangueiras, abacateiros, ameixeiras, pessegueiros e até mesmo jabuticabeiras. Um quintal enorme, que parecia uma chácara e onde o menino passava o dia cortando folhas. A mãe gostava, assim ele não ia para a rua, não andava em más companhias. E sempre que o menino apanhava o seu caminhão de madeira (naquele tempo, ainda não havia os caminhões de plástico, felizmente) e cruzava o portão, a mãe corria com a tesoura: tome filhinho, venha brincar com as suas folhas. Ele voltava e cortava. As árvores levavam vantagem, porque eram imensas e o menino pequeno. O seu trabalho rendia pouco, apesar do dia-a-dia constante, de manhã à noite.
Mas o menino cresceu, ganhou tesouras maiores. Parecia determinado, à medida que o tempo passava, a acabar com as folhas todas. Dominado por uma estranha impulsão, ele não queria ir à escola, não queria ir ao cinema, não tinha namoradas ou amigos. Apenas tesouras, das mais diversas qualidades e tipos. Dormia com elas no quarto. À noite, com uma pedra de amolar, afiava bem os cortes, preparando-as para as tarefas do dia seguinte. Às vezes, deixava aberta a janela, para que o luar brilhasse nas tesouras polidas.
A mãe, muito contente, apesar do filho detestar a escola e ir mal nas letras. Todavia, era um menino comportado, não saía de casa, não andava em más companhias, não se embriagava aos sábados como os outros meninos do quarteirão, não frequentava ruas suspeitas onde mulheres pintadas exageradamente se postavam às janelas, chamando os incautos. Seu único prazer eram as tesouras e o corte das folhas.
Só que, agora, ele era maior e as árvores começaram a perder. Ele demorou apenas uma semana para limpar a jabuticabeira. Quinze dias para a mangueira menor e vinte e cinco para a maior. Quarenta dias para o abacateiro que era imenso, tinha mais de cinquenta anos. E seis meses depois, quando concluiu, já a jabuticabeira tinha novas folhas e ele precisou recomeçar.
Certa noite, regressando do quintal agora silencioso, porque o desbastamento das árvores tinha afugentado pássaros e destruído ninhos, ele concluiu que de nada adiantaria podar as folhas. Elas se recomporiam sempre. É uma capacidade da natureza, morrer e reviver. Como o seu cérebro era diminuto, ele demorou meses para encontrar a solução: um machado.
Numa terça-feira, bem cedo, que não era de perder tempo, começou a derrubada do abacateiro. Levou dez dias, porque não estava habituado a manejar machados, as mãos calejaram, sangraram. Adquirida a prática, limpou o quintal e descansou aliviado.
Mas insatisfeito, porque agora passava os dias a olhar aquela desolação, ele saiu de machado em punho, para os arredores da cidade. Onde encontrava árvore, capões, matos, atacava, limpava, deixava os montes de lenha arrumadinhos para quem quisesse se servir. Os donos dos terrenos não se importavam, estavam em via de vendê-los para fábricas ou imobiliárias e precisavam de tudo limpo mesmo.
E o homem do machado descobriu que podia ganhar a vida com o seu instrumento. Onde quer que precisassem derrubar árvores, ele era chamado. Não parava. Contratou uma secretária para organizar uma agenda. Depois, auxiliares. Montou uma companhia, construiu edifícios para guardar machados, abrigar seus operários devastadores. Importou tratores e máquinas especializadas do estrangeiro. Mandou assistentes fazerem cursos nos Estados Unidos e Europa. Eles voltaram peritos de primeira linha. E trabalhavam, derrubavam. Foram do sul ao norte, não deixando nada em pé. Onde quer que houvesse uma folha verde, lá estava uma tesoura, um machado, um aparelho eletrônico para arrasar.
E enquanto ele ficava milionário, o país se transformava num deserto, terra calcinada. E então, o governo, para remediar, mandou buscar em Israel técnicos especializados em tornar férteis as terras do deserto. E os homens mandaram plantar árvores. E enquanto as árvores eram plantadas, o homem do machado ensinava ao filho sua profissão.
LOYOLA, Ignácio de. RAMOS, O homem que espalhou o deserto. In: Graciliano. et. al. Contos brasileiros. 20 ed. São Paulo: Ática, 2011. p. 51 - 53. Série: para gostar de ler.
1. Quem é o personagem principal do conto? Cite também outro personagem que participa da narrativa e explique o papel dele na história.
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
2. O texto é narrado em primeira ou em terceira pessoa? Justifique com um trecho ou com uma explicação.
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
3. O tempo predominante na narrativa é cronológico ou psicológico? Explique sua resposta com base nos acontecimentos.
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
4. Onde se passa a história? Que mudanças de espaço ocorrem ao longo do conto?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
5. Descreva a situação inicial da narrativa. Que informações o autor apresenta nesse momento?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
6. Qual é o problema que faz essa história acontecer?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
7. Qual é o momento de maior tensão da narrativa?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
8. O que acontece no final do conto?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
Gabarito
1.
O personagem principal é o homem que espalhou o deserto, o menino que cresce e passa a destruir todas as árvores. Outro personagem importante é a mãe, que incentiva o comportamento do filho e, sem perceber, contribui para a destruição.
Comentário:
O aluno deve identificar o protagonista e um personagem secundário, reconhecendo suas funções na narrativa.
2.
O texto é narrado em terceira pessoa, porque o narrador conta a história de fora, sem participar dos acontecimentos. Ele descreve o que o personagem faz, como em: “O menino cresceu, ganhou tesouras maiores.”
Comentário:
Aqui o aluno reconhece o tipo de narrador e demonstra isso com base no texto.
3.
O tempo é cronológico, pois os fatos são contados em ordem: o personagem começa criança, cresce, vira adulto e envelhece. A história mostra a passagem do tempo de forma linear.
Comentário:
O aluno deve identificar a sequência temporal linear, sem saltos ou lembranças internas.
4.
A história começa no quintal da casa, onde o menino corta as folhas das árvores, e depois se amplia para outros lugares da cidade e do país, à medida que o homem passa a destruir todas as árvores.
Comentário:
O aluno precisa perceber a expansão do espaço físico, relacionando o ambiente às ações do personagem.
5.
Na situação inicial, o autor apresenta o menino e sua mãe, o quintal com muitas árvores e o hábito do menino de cortar folhas. Tudo parece normal e tranquilo.
Comentário:
O aluno reconhece o momento de equilíbrio antes do surgimento do problema.
6.
O conflito surge quando o menino, já adulto, transforma sua mania de cortar folhas em uma obsessão por destruir árvores, o que causa a devastação da natureza. Esse momento é representado quando ele encontra o machado. Isso estabelece o problema da narrativa, uma vez que tudo o que fora apresentado antes disso situa-se como normalidade narrativa (equilíbrio)
Comentário:
A resposta deve indicar o problema central que movimenta o enredo.
7.
O clímax ocorre quando o homem decide usar o machado e começa a derrubar todas as árvores, transformando o país em deserto.
Comentário:
O aluno deve identificar o ponto máximo de ação do enredo.
8.
No final, o país está destruído, e o governo tenta recuperar as terras com ajuda de técnicos estrangeiros. Enquanto isso, o homem ensina ao filho a mesma profissão, mostrando que o erro vai continuar.
Comentário:
O aluno reconhece o encerramento da narrativa, observando que o equilíbrio inicial não é restaurado.